sexta-feira, 25 de março de 2016

"Faço qualquer coisa pelas pessoas que amo, mesmo que elas não queiram!"

Seja por solidariedade, altruísmo, ou simplesmente porque queremos ver o bem das pessoas amadas, especialmente as mais próximas e que convivem conosco diariamente, alguns de nós até "exageramos" na dose de auxiliar. Pode ser com a melhor das intenções, pode ser por pureza de sentimentos, por realmente querermos ver o bem de nossos queridos...Mas para tudo há limite, até para colaborarmos com alguém. Aliás, há mais de um motivo para ponderarmos se estamos ajudando ou exagerando... Vamos analisar algumas?

1) O primeiro grande "porém" é, obviamente, que a pessoa auxiliada pode se sentir humilhada em receber determinado tipo de ajuda. Cuidado com isso, podemos ter a melhor das intenções, mas pode ser que para a pessoa seja melhor continuar no problema do que tê-lo resolvido por outra pessoa contra a vontade dela, e se sentir humilhada. 

2) Deixamos de dar oportunidade da pessoa resolver por ela mesma, e se sentir mais fortalecida em seus potenciais e auto estima. Não é maravilhosa a sensação de conseguirmos resolver um problema difícil ou executar uma tarefa? Será que isso também não seria bom para aquele de quem queremos "tomar a rédea do problema?"

3) Podemos tornar a pessoa preguiçosa e dependente, disso temos vários exemplos. Dos pais que fazem o trabalho escolar para os filhos, dos maridos que não gostam de ver a pessoa amada trabalhar fora e ter seu próprio dinheiro, da esposa que recusa ajuda do marido no serviço da casa (e anos depois ele se acostuma com isso e ela reclama que tem muito trabalho e ele não ajuda em nada)... E além de contribuir para que a pessoa fique preguiçosa e dependente, "barramos" o amadurecimento dela.

4) Interferimos no livre arbítrio do outro quando resolvemos um problema ou fazemos algo por ela... Pode ser que a pessoa quisesse resolver um problema de outra forma. Ou em outro exemplo, escutamos que a pessoa está querendo comprar alguma coisa e vamos correndo comprar para ela de presente... Pode ser que quisesse ter escolhido outra coisa, de outra cor, de outro modelo... Não há nenhum mal em querer agradar ou ajudar, mas quando alguém faz isso frequentemente, pode ser cansativo para o outro.

5) A pessoa pode pensar que a achamos incapaz. E isso é um banho de água fria na auto estima de qualquer um. Todos nós gostamos de ser admirados, de saber que as pessoas amadas enxergam nossos potenciais, e como ela vai conseguir praticar isso se tiramos dela qualquer oportunidade em fazê-lo?

6) Talvez ela nem peça ou precise de auxilio, ainda assim vamos lá e fazemos... E a pessoa se sente "sufocada", ou acaba interpretando inconscientemente que quem está ajudando ou querendo fazer muito por ela deve sofrer de baixa auto estima, ou que é uma pessoa manipuladora. E vamos combinar... Não é muito agradável conviver com alguém que parece que vive para nos servir!

7) Tentamos impor a nossa opinião, tentando convencê-la daquilo que é melhor ou do que ela deveria fazer... Mesmo que esteja tudo bem com ela. Achamos que estamos fazendo o melhor em por exemplo tentar convencê-la a parar de se alimentar mal (tipo hambúrguer, cachorro quente, bacon e refrigerante todos os dias). Ok, todo mundo sabe que alimentação errada não faz nada bem para a saúde. Mas quem tem que definir e escolher parar é a pessoa, não nós! E aí inventamos desculpas como "ah, mas depois se ele(a) ficar doente ou tiver algum problema com isso vai me dar trabalho". Não use isso como desculpa. Se a pessoa escolhe continuar comendo mal sabendo que pode adoecer, ela que arque com as consequências disso, inclusive seu afastamento, porque nós também podemos escolher permanecer ou não ao lado dela, o que não é egoísmo nosso a partir do momento em que a avisamos que não pretendemos arcar com as consequências junto com elas. Isso não é egoísmo, e sim, amor próprio para não sofrer por algo que não fizemos. Claro que estou nesse caso citando apenas um exemplo, mas se as pessoas fazem escolhas contra nossa vontade, nós também temos o mesmo direito.

8) Esquecemos de nós mesmos. Isso pode significar falta de auto estima nossa, porque procuramos nos sentir melhores ao ajudar quem amamos. Deixamos de cuidar de nós mesmos e compensamos isso tentando cuidar dos outros. Isso não é caridade ou altruísmo, é pura falta de auto estima. O que adianta ser tão "nobre" com os outros e não ser com a gente mesmo?

9) Ser exageradamente atencioso pode fazer com que a pessoa se afaste de nós. Ela pode achar até que parecemos ser tão auto suficientes que não precisamos dela, ou que ela não é boa o suficiente para nós, ou que ela nunca conseguirá ter nada para nos oferecer. Repito, às vezes não damos espaço para que ela também nos auxilie ou faça algo por nós. Todos os relacionamentos devem ter troca, e muitas vezes as pessoas querem se doar e não conseguem já que o outro se doa tanto! E se a pessoa resolve se afastar, nos sentimos "vítimas" do tipo "fiz tanto por ele(a), e ainda assim se afastou", sendo que no fundo fomos algozes em sufocá-la ou fazê-la se sentir incapaz, e algozes conosco mesmos que colocamos o outro em primeiro lugar.

======================================================================
Temos que entender que cada pessoa é única, cada um tem sua vida, e não temos o direito de interferir na vida do outro, como se fosse uma "extensão" de nós.

Encontrar o equilíbrio entre ser solidário e atencioso, sem ser pegajoso e manipulador, pode não ser tarefa fácil, mas vale a pena pensar no assunto.

E, ainda assim... Muita gente vai continuar achando "lindo" abdicar da própria vida para priorizar os outros...

"Meus pais/avós não admitem que precisam de auxílio..."

Quem já conviveu com idosos, especialmente na família, já deve ter conhecido alguns que insistem em não querer receber nenhum tipo de auxílio, mesmo quando é notável que já não possuem a mesma mobilidade, os mesmos reflexos, a mesma memória, a mesma noção de perigo.

É uma situação extremamente preocupante. Muitos não aceitam ir morar com os filhos, não aceitam ter acompanhantes ou enfermeiros para ajudarem a tomar conta, não gostam que os familiares tomem iniciativas como levá-los aos médicos, a fazer um supermercado para eles, etc... Enfim, um drama. E acabamos os vendo como "teimosos" ou orgulhosos.

O que fazer nesses casos? Cada família acaba encontrando seu meio de resolver o problema. Não é o que pretendo abordar por aqui, e sim, estou buscando entender o porquê dos nossos idosos agirem dessa maneira. Pode ao menos auxiliar na nossa compreensão com eles, e consequentemente, ajudar a renovar nossa paciência.

Eu creio que boa parte dos idosos de hoje seja a primeira geração a enfrentar isto. Pense que até há poucos anos atrás, os idosos dificilmente viviam tanto como vivem hoje. Ou ficavam doentes e nesse caso não tinham como recusar cuidados, ou faleciam muito mais cedo do que os de hoje. O corpo muitas vezes adoecia antes da cabeça começar a dar sinais de cansaço, o que não acontece hoje. Com os avanços da medicina e da farmacologia, os idosos têm alguns anos a mais de sobrevivência, mais fisicamente do que psicologicamente. E eles passam a não ter noção de que a saúde deles está deteriorando... Mas por quê?

Talvez a resposta esteja no passado deles. Eles não viram provavelmente seus pais ou avós viverem tanto tempo, logo, não têm noção porque não tiveram a vivência e o convívio com alguém cuja saúde física e mental foi ficando cada vez mais frágil. Se tivessem tido, pode ser que teriam vivenciado e "registrado" na memória e no subconsciente, conseguiriam ter mais consciência da situação que vivem agora e consequentemente uma melhor aceitação.

Claro que alguns idosos são mais "manhosos" e mesmo não precisando querem chamar a atenção requerendo cuidados além dos que eles realmente precisam, gostam de "vitimizar". Mas para aqueles que sempre foram bem ativos, independentes e "donos de si" realmente é um enorme desafio para eles admitir que precisam de ajuda... Talvez o desafio deles em aceitar seja maior do que o nosso em ter que entender e tomar atitudes. Afinal, é muito melhor ajudar do que ser ajudado... Tendo essa compreensão, certamente nossa paciência será auxiliada.

Pode ser que a próxima geração dos idosos que viverão muito, tenha uma consciência mais desenvolvida a respeito. Vale a reflexão, por mais jovens que sejamos, para no futuro não darmos tanto trabalho para nossos familiares. É triste, mas pode acontecer, então sejamos realistas...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

...e se eu não me casar ou tiver filhos? Ficarei desamparado, na solidão...?

Essa é a pergunta que fazem 9 entre 10 pessoas que optam por ficarem sozinhas, ou que simplesmente não optaram mas estão mesmo assim...

E gente para dar palpite a elas, ou para "colocarem-nas para baixo", é o que não falta.

"Ah, mas você tem que se casar pelo menos uma vez na vida... Ou ao menos ter um(a) companheiro(a) mesmo que não more na mesma casa!"

"Filho é a melhor coisa do mundo, não é possível que você não queira ter um..."

E a clássica: "Quem vai cuidar de você quando chegar à velhice?"

Mas hoje é possível perceber que a juventude atual e o pessoal de seus 40 e poucos anos será praticamente a primeira geração com tanta gente que sim, vai chegar à terceira idade sem ter construído uma família. Muitos por opção, alguns nem tanto mas que seguem o velho ditado "antes só do que mal acompanhado(a)", e por muito mais motivos. Até porque hoje em dia não há aquela obrigatoriedade de casar, nem aquela pressão absurda que a sociedade e família faziam. Não que hoje não haja, mas ao menos, as pessoas começaram a aceitar melhor esse fato. Podem até dizer isso só na teoria e no fundo, conscientemente ou não, acham que "o certo" seria construir família. Mas já é alguma coisa, vai... É um sinal de que aos poucos esses conceitos serão amadurecidos.

Não que construir uma família seja algo ruim, claro que não, certamente é maravilhoso. Mas não deve ser visto como regra.

E a grande preocupação... Afinal, como será a velhice?

É claro que isso passa pela cabeça. Até porque, se esta é a primeira geração de futuros idosos que não construíram famílias, preocupa mesmo, porque não existe referência de como será. A única referência que temos é de uma maioria que construiu família e teoricamente não está só (bem teoricamente, porque conheço muitos idosos praticamente abandonados pelos filhos. Talvez, mais triste do que não ter filhos seja tê-los mas sofrer o descaso e abandono).

Mas eu creio que, se o mercado já pensa nessa futura população, ainda que timidamente (já começaram a surgir por exemplo condomínios voltados à terceira idade, com enfermeiros de plantão), no futuro as pessoas solteiras certamente terão uma estrutura e possibilidades de viver com tranquilidade.

Estávamos acostumados a ver nossos avós e bisavós muito doentes, ou há muito tempo aposentados, ou que faleciam cedo. É essa a visão que temos da velhice há um tempo atrás. Mas, olhe para a geração da terceira idade e idosos de hoje. Muitos são ativos economicamente, saem para dançar, cuidam da saúde, viajam, como algumas gerações de idosos atrás não fazia. Com a medicina avançando, com as pessoas sendo obrigadas a parar de trabalhar bem mais tarde (até porque os valores que a previdência paga pela aposentadoria nunca são suficientes, e considerando também que agora todo mundo será obrigado a trabalhar muito mais do que as gerações anteriores), e com o avanço da tecnologia... O mercado será obrigado a criar soluções, facilidades, produtos e serviços para essas pessoas. Aliás, certamente haverá grandes oportunidades para empresas que se voltarem a essa fatia de mercado.

E quanto à solidão... Essas pessoas terão alguns familiares, amigos (por isso, nunca podemos deixar de cultivar os que já temos e conquistar novos), e com certeza terão como conviver com pessoas na mesma situação que elas.

Quanta gente vive um casamento infeliz, quanta gente casa sem plena consciência do que está fazendo (só porque a sociedade influencia).... Se você se identifica com isso, pense bem se é isso que você quer. Tome cuidado para não sofrer, ou fazer alguém sofrer se no fundo o que você gostaria era estar sozinho, ou sem aquela pessoa...

E independente de como será... Além da vida ser sábia (confiemos no processo e na perfeição dela),  acima de tudo, nosso futuro depende única e exclusivamente de nós. Nossa felicidade não depende de esposo(a), filhos, nem de ninguém. Claro que convívio, termos pessoas para amarmos e sermos amados por elas é muito importante e faz parte da vida, mas acima de tudo, temos que aprender a olhar para nós mesmos e lembrar que a única pessoa que estará conosco, garantida, até nosso último suspiro ou até nosso último momento de lucidez, será nós mesmos

Esqueçamos das teorias do amor romântico, de achar nossa metade (afinal nascemos inteiros), de entender os filhos como extensão das pessoas... Porque dizer "não consigo viver sem você" só deve ser dito para o espelho!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"Não vou mais à igreja/templo... Só tem gente que não faz nada do que prega!"

Quem de nós nunca ouviu alguém falar assim, ou vai saber se você mesmo(a) não diz ou pensa assim?

Este é um equívoco muito comum, bem como, surpreender-se com supostos erros de seguidores ou trabalhadores religiosos é pura ingenuidade.

É preciso lembrar que acima de tudo, os líderes religiosos, os trabalhadores das instituições, bem como os frequentadores de igrejas, templos e centros são seres humanos, totalmente sujeitos a errar, como qualquer pessoa. E quem vai arcar com as consequências das atitudes deles serão principalmente eles mesmos!

"Mas como ele(a) ensina/prega tudo isso e age totalmente diferente? Ele(a) não tem esse direito!!!"

Não é bem assim. Chega a ser orgulho, arrogância ou prepotência da nossa parte pensar desse jeito. Isso é julgar o outro, que tem tanto direito de errar como qualquer um de nós. E pode ser uma atitude comodista e "engessada" da nossa parte achar que temos mais direito de errar do que eles, uma "desculpa" a mais para errarmos... 

E por que a gente se surpreende tanto com os erros dessas pessoas? Simplesmente porque não paramos para pensar que saber o que as religiões pregam na teoria é bem distante de praticar. Que essas pessoas muitas vezes são ou estão até iludidas sobre elas mesmas. Acham que porque elas tiveram acesso a teorias, estudos e conhecimento sobre determinada doutrina, sabem de tudo. E ok, elas até podem saber muita coisa, mas na teoria. Mas saber se restringe ao plano racional. Agora, praticar é totalmente subjetivo, é emocional, é vivência. E o que não falta no mundo é gente que confunde razão com emoção... 

Muitas dessas pessoas, além de serem iludidas sobre elas mesmas, podem sofrer de outro mal gravíssimo do qual sequer se dão conta: Acham que por serem trabalhadoras ou crentes em Cristo, Buda, Jeová, Allah, Krishna, ou seja qual for a divindade, crêem que "têm uma proteção espiritual extra" e com isso acham que a probabilidade delas errarem é menor. E quando elas se dão conta do erro, ou colhem o mal que plantaram... Vem uma decepção tão grande que pode demorar muito tempo para entenderem o que houve. E pelo que já vi por aí, se essas divindades existem, respeitam muito o livre-arbítrio dos seus seguidores, tanto que permitem que eles errem...

Não creio que haja motivos para a gente deixar de frequentar um lugar que corresponde à nossa fé por causa disso (a não ser que nós sejamos uma vítima dessas pessoas, percebamos atitudes descaradamente anti éticas ou criminosas, claro). Aprendamos a separar as coisas. As instituições podem ser excelentes escolas, podem ter trabalhadores talentosos, mesmo que eles tenham talento apenas para ensinar e transmitir teorias e filosofias, e nada de vivência.  Nosso principal interesse ao frequentar uma instituição é adquirir conhecimento ou encontrar um conforto espiritual, não julgar ou determinar como deve ser a vida pessoal das pessoas que ali estão.

Lembre-se também que a maioria das religiões ensina a não julgar e a perdoar o próximo. Portanto, seus frequentadores e trabalhadores também podem vir a precisar do nosso perdão. E mesmo que a gente não cometa os mesmos erros deles, podemos cometer outros, quem sabe até piores...

E há um lado positivo quando nos deparamos com erros dessas pessoas. Entendemos que elas não são superiores a ninguém (mesmo que elas pareçam ser aos nossos olhos ou deem a entender isso), consequentemente que não somos inferiores a elas e que no fundo somos todos iguais...  Que elas sirvam de exemplo para nós, caso tenhamos a intenção de um dia sermos trabalhadores ou seguidores assíduos dessas instituições. Procuraremos não agir da mesma forma, e principalmente, aprenderemos a ter a humildade de perceber que estaremos sempre sujeitos a errar independente da posição na qual nos encontrarmos.

______________________________________________________________________

"Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, sede fortes." - Paulo (I Coríntios, 16:13)

"Deixemos todo impedimento e pecado que tão de perto nos rodeiam e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta." - Paulo (Hebreus, 12:1)

"Olhais para as coisas segundo as aparências? Se alguém confia de si mesmo que é do Cristo, pense outra vez isto consigo, que assim como ele é do Cristo, também nós do Cristo somos." - Paulo (II Coríntios, 10:7)

"Mas ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova, de dia em dia." - Paulo (II Coríntios, 4:16)

"Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." (Tiago, 2:17)