sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Ficar sem ele(a) x ficar sozinho(a)

Talvez o maior problema não seja saber como vai ficar sem ele(a), mas sim, como você vai ficar só com você....

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A bolsa pesada

Nós, mulheres, temos bolsas grandes onde sempre cabe tudo e mais um pouco. Por maior que seja, estamos sempre colocando mais e mais coisas.

Mas vou falar para vocês: A minha "andava de parabéns' (risos)! Um peso que não tinha quem não reparasse. E era bem resistente, mas base das alças começou até a rasgar de tanto peso.

E um dia reparei na necessaire onde carrego alguns itens de maquiagem (itens indispensáveis para mulher, óbvio). Cheia de coisas que eu não uso todos os dias, aliás, que uso raramente. E retirei algumas coisas dela. E percebi que... A bolsa continuou pesada. Demais. E parei pra observar melhor. E aí fui me dar conta: A própria necessaire, vazia, era pesada demais. E encontrei uma solução. Peguei o estritamente necessário e coloquei numa necessaire menor, só de tecido, que quase não pesa nada. E aí... A bolsa finalmente ficou "carregável". :-)

A necessaire pesada havia ficado mais de um ano dentro da bolsa... Ou seja, fiquei um ano carregando aquele peso, sem perceber. 

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E aí parei pra pensar...  Fazendo uma analogia com nosso coração e nossa alma... Quanto peso a gente deve carregar sem saber. Quanta coisa a gente carrega todo dia sem precisar, sem usar pra nada, que só fica consumindo nossa energia e trazendo desconforto. Quanto tempo ficamos desconfortáveis, sem "nos tocarmos" do mal que aquilo faz para a gente, sem perceber o quanto podemos deixar nossas bolsas mais leves, nossos dias menos cansativos. O caminhar fica mais difícil, mais cansativo, mais lento. Somos obrigados a andar mais devagar... Como seria mais fácil se estivéssemos mais leves, se prestássemos mais atenção ao que carregamos todos os dias! 

Talvez seja hora de "esvaziar um pouco a bolsa" do nosso coração. Pode ser simplesmente começando por não mais dar atenção a um pensamento ruim. Parando de dar importância a pessoas e relacionamentos "tóxicos". Começar a observar o que pode estar pesando tanto sem a gente perceber (como eu ao descobrir a necessaire pesada). Evitando sofrimentos por antecipação. Mostrar aos demais o que nos incomoda, o que nos machuca, e não mais tomar para nós o peso que são dos outros...

Abra sua bolsa agora... E observe com atenção se cada item que você carrega é realmente necessário para todos os dias!

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As Descobertas de Fernanda

As descobertas de Fernanda

Deitada em sua cama, abraçada a uma almofada, Fernanda chorava. Sua mãe, Elisa, havia falecido quinze dias antes. A avó paterna, dona Linda, entrou no quarto, chamando-a para jantar.

_Vamos, Fernanda, comer um pouquinho. Sei que tudo isso é muito difícil, mas você precisa se alimentar, querida... Você tem 10 anos, está em fase de crescimento.

_Vovó, estou sem fome. Queria minha mãe de volta... Por que ela teve que partir?

_Todos nós queríamos sua mãe de volta, meu bem. Mas existem coisas que não têm explicação. Acredite que Deus sabe o que faz.

_Deus? Duvido que exista... E se existe, não é tão bom como falam... Como pode, levar uma pessoa tão boa como era a mamãe?

_Fernanda, sua mãe ficaria muito triste se te ouvisse falando assim... Ela era uma mulher de muita fé, e quis muito passar isto para você...

_Não importa, vovó. Agora ela não está mais aqui, não está me ouvindo... Agora, por favor, me deixe um pouco sozinha, estou sem fome mesmo...

E desatou a chorar de novo. Dona Linda achou melhor deixá-la sozinha mesmo. Ao descer as escadas, Zeca, seu filho e pai de Fernanda, perguntou por ela:

_Mãe, e a Fernanda? Não vai jantar?

_Está chorando, Zeca. Quer a mãe de volta, e está se perguntando se Deus existe mesmo... E quis ficar sozinha. Achei melhor deixá-la.

_Vou falar com ela. Tenho algo em mente, e já sei o que fazer. Ela também já me disse que não acredita em mais nada. E ela é muito jovem para perder a fé na vida...

Subiu até o quarto de Fernanda. E bateu na porta:

_Filhinha, posso entrar?

_Claro, papai...

Zeca entrou no quarto e Fernanda estava com o rosto todo vermelho, banhado em lágrimas. Abraçou a menina e disse:

_Fernanda, sei o quanto é duro para você. Para mim também é, você sabe o quanto eu e mamãe nos dávamos bem. Eu também estou muito abalado e tentando me adaptar sem ela... Tudo é muito difícil, a gente tem que se ajudar, filha... Venha, vamos descer e jantar um pouco.

_Papai, eu não aguento de saudades da mamãe... Não tenho vontade de nada.

_Filha, a mamãe não está mais aqui. Mas pense que seu pai está, e estará sempre com você. Então, é por mim que peço. Venha comer um pouco, estou muito preocupado com você, e tudo o que não preciso agora é de você doente por não se alimentar. Faça isso pelo seu pai... E por sua avó também, que tem feito o possível por nós.
Fernanda levantou-se. Pensou no que o pai disse, e de fato não queria trazer mais preocupações para ele e para a avó.

_Isso, filha. Vá lá lavar esse rostinho, penteie seus cabelos... E vamos jantar. Preciso de você forte e alimentada. Amanhã vou te levar para um passeio.

_Passeio, papai? Para onde? Eu não tenho vontade!

_Será uma surpresa para você. Vamos, mesmo sem vontade. Em algum lugar temos que estar amanhã, certo? E não precisa ser em casa. Será Sábado, vai fazer sol... E tenho certeza de que vai te fazer bem. Vamos, faça isso pelo seu pai. Vamos dormir cedo, iremos para um lugar não tão perto.

E de fato, Fernanda atendeu ao pedido do pai. Jantou, e no dia seguinte, bem cedinho, se preparava para sair. E como ele havia pedido, vestiu-se com roupas confortáveis e calçava tênis. Ao descer, viu que o pai levava uma mochila nas costas.

_Pra que a mochila, papai?

_Faz parte do passeio, filhinha. Não faça perguntas, eu já disse que era uma surpresa.

E Fernanda não fez mais perguntas mesmo, até pelo seu desânimo.

Entraram no carro. Zeca saiu da cidade, entrou numa estrada, e a viagem seguiu. Chegaram numa pequena cidade do interior, bem arborizada. Uma estradinha de terra os conduzia a um lugar muito bonito. Fazia sol. Zeca disse:

_Sinta o cheiro do mato, Fernanda! Ouça o canto dos passarinhos! Sair da cidade grande nos faz tão bem, não faz?

Zeca emocionou-se, porque falou exatamente o que Elisa diria se estivesse ali também. Fernanda sentiu que o pai fazia um esforço tremendo para anima-la apesar da tristeza que ele não conseguia esconder também. E sabia que ele estava fazendo tudo isso por ela, então ela procurou se animar.

E finalmente chegaram ao destino. Zeca estacionou o carro, desceram e entraram numa reserva florestal.

_Aqui começa nossa aventura, Fernanda. Vamos andar numa trilha! Espere um pouco aqui, vou registrar nossa entrada. Um guia irá nos acompanhar e ele já deve estar nos esperando.

Fernanda viu de longe seu pai conversando com o guia por uns minutos. Em seguida, ambos vieram até ela. O guia se apresentou:

_Bom dia, Fernanda, prazer em conhecê-la! Meu nome é Samuel, mas pode me chamar de Samuca. Irei acompanhá-los na aventura.

_E para onde vamos?

_Não posso contar! Senão estragarei a surpresa que seu pai quer fazer para você. Vamos lá? O caminho é longo.

Mesmo triste, Fernanda foi seguindo o pai e o guia. Conversaram sobre o dia bonito que fazia, sobre o ar fresco que refrescava a sensação do sol quente... E do quanto Elisa gostaria de estar ali com eles. Elisa, Zeca e Fernanda sempre gostaram de ter contato com a natureza. Alguns trechos eram difíceis, Fernanda até se queixou um pouco:

_Papai, estou cansada...

_Tenha um pouco de paciência, filha. Ás vezes é preciso ter um pouco de trabalho para alcançarmos coisas boas. E acredite, você vai adorar. Não vai, Samuca?

_E como vai! Será um sucesso, Nanda!

 Num momento da trilha, Zeca disse:

_Filha, aqui começa minha surpresa para você. Vou vendar seus olhos. Confie no seu pai, ok?

Zeca vendou os olhos de Fernanda e pediu que ela aguardasse um pouco. Ela ouviu que ele e Samuca pegavam outras coisas na mochila e ficou se perguntando que surpresa seria aquela. Zeca disse a ela:

_Vamos, Fernanda, segure minha mão. Vamos andar bem devagar, vou te orientando para você não tropeçar.
E foram andando. Logo em seguida, ele disse:

_Não se assuste, mas vamos pisar em um pouco de água agora. Não se preocupe em molhar seus tênis porque trouxe outros para você na mochila.

Fernanda começou até a ficar um pouco mais animada:

_Oba, então pelo jeito essa surpresa vai ser divertida... Embora a mamãe não gostaria nada, nada de saber que eu estou molhando os pés.

_É verdade. Ela nos daria uma bela bronca agora se nos visse de onde está. Mas vamos. E a água pode estar gelada, mas logo vamos nos acostumar. Só os seus pés irão molhar.

_Ui, papai, que água gelada. Nós estamos em um lago?

_Pode-se dizer que sim, Fernanda. Logo você vai ver o que é!

Andaram mais um pouco, saíram do lago. Ao continuar o caminho, Fernanda percebia que tudo parecia estar ficando mais escuro. Apesar da venda nos olhos, deu para perceber quando a claridade do sol sumiu, bem como, quando o calor dele parou de tocar sua pele.

Zeca parou de andar. E disse:

_Pronto, filha. Pode tirar a venda dos olhos. Mas fique onde está, não saia de perto de mim. E não tenha medo.
Fernanda tirou a venda dos olhos, mas viu-se numa escuridão total. Não enxergava nada. Olhou para cima, para baixo, para os lados... Mas tudo era escuridão total. Zeca esperou que ela se manifestasse:

_Papai, por que está tudo tão escuro? Que lugar é este?

_Você já vai ver, querida... Agora, Samuca!

Zeca e Samuca acenderam uma lanterna. Fernanda olhou ao redor, e ao ver o ambiente iluminado, ficou maravilhada:

_Noooossa, papai! Mas isso é... Isso é uma caverna!!! Como as que vi nas fotos que você me mostrou!!! Eu sempre quis conhecer uma!

_Sim, Fernanda, é uma caverna. Fiz questão de te trazer num salão bem escuro dela para fazer a surpresa. Agora, vamos, coloque o seu capacete, e também tem uma lanterna nele para que você consiga enxergar tudo melhor, igual ao meu. E se sentir frio, tenho uma blusa para você na mochila. Pode estar o calor que for lá fora, a temperatura aqui pouco irá variar. E trouxe um lanche, com tudo o que você gosta, para podermos repor as energias quando sairmos daqui.

Pela primeira vez em 16 dias, Fernanda sentiu-se animada. Seus pais sempre diziam que a levariam para conhecer uma caverna e ela sempre esperou por isso. Zeca ajudou-a a colocar o capacete, e ela de fato estava muito contente. A terceira lanterna acesa melhorou ainda mais a visão dos três aventureiros.

Era um bonito salão o que estavam. Fernanda foi olhar de perto as formações: Estalactites, estalagmites, cortinas, colunas... Ela conhecia tudo por fotos, já tinha lido bastantes coisas a respeito, mas vê-las de perto era muito mais emocionante.

_Fernanda, lembre-se de que a natureza trabalhou anos e anos para isso. E ainda não terminou seu trabalho. Essa caverna em que estamos, por ter água, o que você achou que era um lago, significa que ainda está em formação, lembra-se disso?

_Sim, papai, eu me lembro. E olha que legal, as gotinhas caem tão devagar das estalactites...

_Fernanda, lembre-se de não tocar em nada, principalmente onde tem as gotinhas, senão você destrói anos de trabalho da natureza, que precisa de tempo para construir com perfeição essas lindas formações.

Ela observou cada canto do salão onde estavam. E Samuca foi conduzindo pai e filha para outros salões da caverna. Todos tinham formações interessantes de se ver, de formatos e colorações diversas. Fernanda estava encantada com tudo o que estava vendo. Era tudo muito lindo, um verdadeiro presente da natureza.

Ficaram aproximadamente uma hora dentro da caverna. E fizeram um lanche, e em seguida, toda a trilha de volta. Zeca agradeceu Samuca por tê-los acompanhado:

_Muito obrigado, Samuca! Quando eu vier novamente vou te chamar para nos acompanhar.

_Eu é que agradeço, Zeca. Venha sempre que possível. Aqui no parque tem muitas coisas lindas para ver. A Fernanda vai adorar.  E... Muita força, muita luz para vocês.

Samuca abraçou Zeca, e em seguida, abraçou Fernanda também. E a ela disse:

_Adorei conhecê-la, Fernanda. Espero vê-la de novo em breve. E... Sinto muito por sua mãe... Seu pai me contou tudo. Espero que você consiga superar logo essa fase tão difícil. Viva, e deixe seu pai viver também! Agora, vou deixar você e seu pai. Ele tem algumas coisas importantes para te falar.

Fernanda chorou um pouco. Zeca segurou em sua mão e foi levando a menina para uma outra trilha, desta vez bem mais curta, procurando distraí-la com outras coisas. Logo em seguida, chegaram num lindo lugar, com uma cachoeira.

_Vamos nos sentar naquela pedra e contemplar esse lugar... É muito bonito.

Sentaram-se. A menina começou o assunto:

_Papai, o Samuca disse que você tinha coisas importantes para me falar... O que é?

_Tenho, sim, Fernanda. Você gostou de tudo o que viu hoje? Gostou da caverna, gosta desse lugar em que estamos agora?

_Sim, papai, é tudo muito lindo...

_E você tem ideia de quem criou tudo isso?

Fernanda ficou quieta. Abaixou um pouco a cabeça, ficou pensativa. Olhou para a cachoeira, olhou para o rio, olhou para o céu...

_Já sei. Você vai me dizer que foi Deus. Mas não estou acreditando muito n’Ele...

_E por que você acha que eu diria a você que é Deus?

_ É o que a maioria das pessoas diz.

_Filha, vou repetir a pergunta. Não estou pedindo para você dizer que é Deus, e muito menos pedindo para que você acredite n’Ele. Quem você acha que criou tudo isso?

_Não sei, papai. Uma “coisa”... Ou alguém com muito poder.

_Mas você acredita que exista algo ou alguém que criou tudo isso, certo? Afinal, se tudo isso que existe está aí, surgiu de alguma forma... Concorda?

_Sim, papai... Mas acho que essas coisas deveriam ser explicadas para a gente.

_Fernanda, há muitos mistérios da natureza que a humanidade precisa desvendar. Existem várias teorias a respeito, tanto na ciência como nas religiões e crenças... Mas nada é certo. Os homens estão aí, vivendo na Terra há uns 200.000 anos, mas até hoje não desvendaram quase nada. E se é assim, significa que ainda não evoluímos o suficiente para ter esse conhecimento, por mais que a ciência cresça, o caminho ainda é longo. Um dia, acredito que tudo isso será explicado. Mas enquanto isso não acontece, é importante lembrarmos que se estamos aqui, somos parte da natureza... Que uma força desconhecida nos criou. Isso é ter fé na vida, Fernanda. O que você acha?

Ela se calou. Não conseguia responder nada, e seu rostinho mostrava profunda tristeza. Como continuou em silêncio, Zeca continuou:

_Fernanda... Responda-me uma coisa. Logo que vendei seus olhos na trilha, andamos um pouco e pisamos na água. Você me perguntou se estávamos em um lago. Mas onde estávamos de verdade?

_Na caverna.

_Certo. E por que você achou que era somente um lago e não uma caverna?

_Porque foi na primeira coisa em que pensei, e senti a água nos pés... Eu não podia ver que era uma caverna.

_E você nunca havia estado numa caverna antes. Isso também ajudou você a não pensar que podia ser uma caverna, concorda?

_Sim, concordo. Mas o que você quer dizer com tudo isso?

_Quero dizer, filha, que a gente deduz as coisas à medida que vamos adquirindo conhecimentos. Mas que nem sempre deduzimos o que é correto. A gente tira conclusões de acordo com aquilo que sabemos naquele momento. E à medida que vamos aprendendo mais, vamos começando a questionar mais. Se eu vendar seus olhos numa nova trilha e você pisar em água de novo, daqui para frente vai se perguntar se está num lago ou numa caverna. Então, vale a pena pensar se acreditamos ou não em certas coisas, bem como, se aquilo que deduzimos pode ter outras respostas. Que tal pensar um pouco nisso?

Novamente Fernanda se calou. Após um tempo, o pai fez nova pergunta:

_Outra coisa, filha. Quando vendei seus olhos... Você sentiu medo?

_Não, papai, não senti.

_Quando pedi para você caminhar de mãos dadas comigo, você não podia ver nada. Quando falei para você tirar a venda dos olhos e tudo continuou escuro, falei para você não ter medo. Por que você não teve medo?

_Porque eu acredito em você, você é meu pai...

_E  você confia em mim, mesmo sem saber para onde eu estava te levando... Certo?

_Certo.

_Então, Fernanda. Será que a tal força desconhecida que criou o mundo, inclusive este pequeno pedaço dele que estamos visitando hoje, não faz o mesmo com a gente?

Fernanda pensou um pouco e disse:

_É... Pode ser. Mas por que faria a gente sofrer? Você me levou num lugar lindo sem eu saber. Essa “tal força” às vezes nos faz sofrer! Você não me fez sofrer.

_Fernanda... Nem tudo tem explicação. Hoje eu te trouxe num lugar bonito. Há umas semanas atrás, tive que brigar com você, que não fez a lição de casa e escondeu de mim e de sua mãe, lembra-se disso? Você ficou triste e chorou bastante. Fiz você sofrer, não fiz?

_Sim, fez...

_E mesmo tendo brigado com você, você sabe o quanto te amo, filha... E sabe que fui obrigado a brigar com você para que aprendesse a ter mais responsabilidade e a não mentir mais. Na hora você não percebeu isso, mas agora  sabe que fiz isso para que você cresça, não sabe? E que continuarei fazendo se for preciso...

_Sim, papai... Eu sei.

_Então, filha. Você acredita no seu pai, mesmo sabendo que ele pode te trazer alegrias e te deixar triste de vez em quando. Estou certo?

_Está!

_Filha querida... Isto se chama “fé”. Será que não é assim que essa força desconhecida age conosco?

Fernanda ficou em silêncio. Como não dizia nada, Zeca fez outra pergunta:

_Vamos, Fernanda. Olha, não precisa me responder nada agora. Sei que é muita informação para sua cabecinha, é muita coisa para você pensar... Mas preciso te falar essas coisas, filha. Você é tão jovem e está tendo que conviver com uma dor muito grande... Eu quero que você encontre forças para continuar, para não se entregar ao sofrimento e perder a fé em viver. E fé, Fernanda, é uma palavra que ouvimos muito quando o assunto é religião. Mas querida... Fé é uma palavra que pode ser usada em tudo aquilo que acreditamos. Podemos ter fé numa religião sim, mas podemos ter também em nossos amigos... Você pode ter na escola, quando faz um bom trabalho e espera que sua professora reconheça... Eu posso ter no meu trabalho... Um eleitor pode votar em um candidato na eleição por acreditar no trabalho dele... Tudo isso é fé, Fernanda. É acreditar em algo, independente de sabermos se o que esperamos vai se realizar ou não, e se aquilo em que acreditamos nos dará o que esperamos. E é preciso ter fé na vida, Fernanda, na energia que criou todo o universo. A gente não sabe praticamente nada sobre isto... Algumas pessoas acreditam em Deus, outras dão outro nome, há milhares de religiões que dão vários nomes a essa força, Fernanda. E há também quem não acredite em um “ser” exatamente, que são os ateus, mas que também não sabem explicar os mistérios do mundo... Você tem fé no seu pai, assim como podemos ter fé na força da vida.

_Ah, papai. Você eu vejo. Como posso acreditar naquilo que não vejo?

_Fernanda... Quando acendemos a luz, o que faz com que a lâmpada se acenda?

_A eletricidade.

_E você vê a eletricidade?

_Sim, papai, quando a luz acende.

_Não, Fernanda. Você vê o efeito da eletricidade, que é uma força invisível.

_Mas papai, se eu vejo que a luz acendeu, eu sei que foi a eletricidade que a trouxe!

_E quando você vê todas essas coisas lindas da natureza à sua volta... Quem foi que trouxe?
_Não sei...

_...Certo. Você não sabe, e eu também não. Mas foi uma força invisível também, assim como a eletricidade. O homem já descobriu a eletricidade, vai descobrir outras coisas também. Mas existe uma força invisível que criou a natureza que você vê. Concorda com isso?

_Sim, papai, concordo... Mas acho que vou acreditar quando o homem descobrir.

_Fernanda, os efeitos dessa força estão aí para a gente ver e acreditar nela. Mas tudo é questão de tempo. Vamos pensar naquelas estalactites que você viu na caverna. Geralmente elas crescem de 6 mm a 25 mm a cada 100 anos. Tem noção do que é isto, do tempo que elas demoram para se formar?

_Nossa, tudo isso?

_Sim. Tudo isso. Demora esse tempo todo. E não são belas, mesmo em formação?

_Sim, são lindas!

_É isso, filha... Há coisas belas em formação, e são belas mesmo enquanto ainda não estão prontas. Assim como nós e a humanidade em geral... Gostaria que você pensasse em tudo isso.

_Mas eu queria ainda entender por que a mamãe teve que ir embora, papai... Eu sinto tanta saudade!

_Fernanda... Tudo isso é muito difícil para nós todos. Esse é um dos mistérios que demoraremos muito para descobrir, se é que um dia iremos. Mas, pense em outra coisa. Lá dentro da caverna, quando você tirou a venda, tudo continuou escuro, não continuou?

_Sim, eu não enxergava nada.

_E o que eu e o Samuca fizemos?

_Acenderam as lanternas, oras...

_Então. Nós acendemos as lanternas para iluminar a escuridão. É o que precisamos fazer na vida, minha pequena aventureira. É preciso encontrar motivos para levar luz onde está escuro... E o que aconteceu quando acendemos a sua lanterna também?

_Conseguimos enxergar ainda melhor.

_Sim, querida, quanto mais pessoas escolherem iluminar, mais visão e conforto todos terão... Fernanda, é isso que tenho tentado fazer todos os dias por você. Tudo vai continuar triste e difícil por um tempo, mas se ambos escolhermos iluminar... Será mais reconfortante. Juntos, teremos uma luz em dobro. Vamos tentar?

Fernanda abaixou a cabeça e começou a chorar...

_Por favor, filhinha... Olhe para mim! Aqui, bem nos meus olhos!

A menina olhou nos olhos do pai. Com os olhos também marejados, ele continuou:

_Eu... Não aguento ver você tão triste. Eu tenho muita saudade da sua mãe, sei que você também... E ver você sofrendo tanto... Aumenta ainda mais a minha dor. Não posso pedir que você não sofra, Fernanda, porque isso faz parte e não temos como fugir disso... Agora... Ver minha filha tão amada... Tão amarga... E tão descrente de tudo.... Eu... Não consigo...

A voz de Zeca foi ficando pausada e trêmula. Não conseguiu dizer mais nada. Abraçou a menina bem forte. E ali, abraçados, ambos choraram toda a sua dor, tendo apenas a natureza como testemunha.

_Papai, não chore...

_Nanda... Seu pai também sofre. É impossível ser tão forte a ponto de nunca chorar. Isso faz parte. Mas não se preocupe, eu estou bem. Apenas me diga que ao menos irá pensar em tudo o que conversamos! Lembre-se que estou pedindo simplesmente que você acredite na vida, mesmo que não saibamos por que algumas coisas tristes acontecem... E que você pense também em ter fé, independente da crença que você escolher ter, independente de ser a mesma que eu e sua mãe tínhamos! Isso é com o tempo, minha querida, mas saiba que estarei sempre aqui ao seu lado. Pode contar com seu pai para sempre. Tudo o que eu te disse pode levar um tempo para você assimilar. Vamos conversar sobre isso sempre que você quiser!

_Sim, papai... Eu vou pensar...

_Obrigado, filha. Já me conforta saber que ao menos você está disposta a tentar. Agora, vamos indo, minha pequena aventureira?

_Vamos, papai.

De mãos dadas, foram seguindo a pequena trilha de volta. Caminhavam em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos. Desta vez, foi Fernanda quem cortou o silêncio:

_Papai... Preciso te perguntar uma coisa!

_Claro, o que você quiser!

Zeca parou na trilha, sentou-se numa pedra, pôs a menina no colo, que disse:

_Papai... Esses dias todos, de tão triste que fiquei, falei que não acredito em nada, e confesso que fiquei até com raiva de tudo isso... E também dessa “força maior”, como você diz, que deve saber que estou com raiva dela... Será que vou ser castigada de alguma forma por isso?

_Nanda... Confesse. Quando eu brigo com você, você fica triste comigo e às vezes sente até raiva, não sente?

Fernanda se calou.

_Filha, vá em frente. Pode falar. Seu pai está aqui para isso. Não tenha medo nem culpa do que você sente, nem de falar sobre isso.

_Sim, papai, eu fico triste com você às vezes e já senti raiva...

_...Filha, o papai sabe, porque eu também sinto raiva das pessoas que amo quando elas me magoam. Mas eu te amo mesmo sabendo disso, e jamais te castigaria. Pode acreditar que essa Força Maior age da mesma forma... Aliás, age com certeza muito melhor do que eu, afinal eu sou apenas um humilde filho dela, assim como você. Não se preocupe com isso. É capaz que você ainda se sinta mal com toda essa tristeza que você está vivendo, mas você vai ver como o tempo vai curar tudo. E a Força Maior entenderá tudo isso, e intercederá por você e por todos nós. Não sinta medo. E tenha fé. Lembre-se, seu pai está com você.


Pai e filha de mãos dadas retornaram à trilha continuando o caminho de volta. A força da natureza os abraçava em silêncio... Abençoando todas as trilhas da vida nas quais ambos iam caminhar ainda.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O colinho de Jesus para dormir...

Está tendo alguma dificuldade para dormir? Tem passado por problemas que literalmente têm tirado seu sono? Ou ainda, não tem problemas para dormir mas está indo triste e amargurado? Tem acordado cansado(a), desanimado(a)?

Então, na próxima vez que você dormir, tente o seguinte...

Imagine-se chegando num lugar que lhe agrade. Pode ser um jardim, uma praia, um bosque (com direito ao som de passarinhos ou água num riacho se você quiser), ou uma sala confortável com decoração aconchegante e quem sabe uma música tranquila, sua igreja, enfim, o ambiente que você quiser. Imagine que você está vestindo uma roupa bem leve e fresca. Ande calmamente. Em seguida, sentado no canto de um banco (ou de um sofá), você vê Jesus. Vá até Ele, que te oferece uma almofada confortável. Pegue essa almofada... Coloque no colo d'Ele, estenda-se no banco e deite sua cabeça em Seu colo...

É dia ou noite? Você decide...

Aí você pode imaginar o mais absoluto silêncio entre ambos, quebrado apenas pelos agradáveis sons do ambiente, ou ainda, você pode imaginar que Ele lhe diz algo que te conforte ou tranquilize. Pode imaginá-Lo acariciando seus cabelos se quiser. Enfim, a meditação é sua. Respire profundamente e devagar, até simulando uma respiração parecida com a que temos quando dormimos. Permita-se ficar assim por um tempo até que se sinta mais tranquilo(a), se é que você não dormirá antes. 

É algo simples de ser feito, porém costuma funcionar para quem acredita. E, claro, você pode escolher outro ser de luz (Maria de Nazaré, um anjo que pode ser o seu anjo da guarda, enfim, qualquer entidade na qual você tenha fé.), outros ambientes, outros sons, sentir aromas...

Para aqueles que não aceitam imagens de divindades, você nem precisa imaginar um rosto, apenas uma forma humana já pode ser mais do que suficiente.

Para mim era infalível, raramente eu conseguia chegar até o fim porque dormia antes. Conheço mais de uma pessoa que fez e gostou. Realmente funciona, e por quê? Acalma nosso pensamento... Desvia nosso foco do problema para a visão de um ser de luz e de um ambiente que nos transmite paz e tranquilidade. Muitos de nós temos mais facilidade em encontrar auxílio quando estamos vendo algo que nos agrada.

E para quem acredita... Pensar em Jesus de uma maneira tão acolhedora afasta qualquer negatividade ou má influência que não conseguimos ver, mas que nos rodeiam sem que muitas vezes percebamos. 

Projetar-se num ambiente com um ser de luz ofuscará e neutralizará as sombras que podem estar à nossa volta!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

"...por que não aprendo isso ou não saio dessa de uma vez???"

Creio que todos já fizeram essa pergunta em algum momento da vida. Parece que certas coisas sabemos exatamente como deveriam ser, e outras, como gostaríamos de sentir e/ou agir totalmente diferente do que fazemos.

E, se sabemos disso... Por que "cargas d'água" não conseguimos estar ou agir como queremos?

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que não controlamos o que sentimos, por mais que queiramos. Às vezes custa para entendermos que não é porque achamos que determinada coisa é 'o certo', vamos dizer assim, que assim já somos. E isso gera vários conflitos e decepções conosco mesmos... O foco dessa postagem não é exatamente isso, se quiser saber mais sobre 'a arte de tentar controlar o que sentimos' leia mais no link http://venhaereflita.blogspot.com/2014/06/eu-estou-bem-apesar-de-tudo.html . E nossos sentimentos não possuem um botão "liga-desliga", e é preciso suportá-los por um tempo às vezes, mesmo que nos incomodem.

Mas a ideia dessa postagem é outra. É entender o valor do tempo no processo do aprendizado.

Claro que ninguém gosta de sentir tristeza ou qualquer outro sentimento que nos coloque "para baixo" ou que ainda nos faça nos sentirmos inferiores de alguma forma. Mas certas coisas precisam de tempo para serem entendidas e digeridas. A própria vida nos dá exemplos disso. Por exemplo, pense numa pessoa com um processo inflamatório. Ela vai ao médico e ele receita um comprimido duas vezes ao dia durante 15 dias. Ou seja, ao longo desse período, a pessoa vai tomar 30 comprimidos. Aí pergunto a vocês: A pessoa vai conseguir sarar se tomar os 30 comprimidos de uma vez? Claro que não, ela pode até se desintoxicar e certamente a inflamação não vai passar "de uma vez". Remédio se toma aos poucos, concordam? E temos também que estarmos cientes de que alguns medicamentos podemos tomar a vida inteira e não encontrar a cura... Assim como talvez teremos que saber lidar com determinadas fraquezas para sempre...

Quer um outro exemplo? Em geral, as pessoas precisam consumir 2000 calorias por dia. Em uma semana, temos 14000 calorias. Seria saudável e coerente ingerir 14000 calorias de uma vez e passar o resto da semana sem comer nada? Óbvio que não. A pessoa passaria mal no dia, e sentiria fome em outros.

Parecem exemplos bobos, mas não são. São exemplos de que na vida certas coisas precisam ser dosadas diariamente e tomadas aos poucos....

Portanto, não se cobre tanto em aprender algo 'de uma vez', ou ainda, de mudar seus sentimentos de uma hora para outra. É como está exemplificado. Na vida as coisas acontecem aos poucos. Um bebê precisa de pelo menos sete meses para se desenvolver no útero. Uma universidade se faz em média em 4 anos. Por que com nossos sentimentos e evolução pessoal deveria ser "imediato"? Nenhum ser humano tem condições de conseguir certas coisas de imediato apenas por querer. Querer é poder, sim, porém é preciso respeitar o tempo para a conquista.

Não temos capacidade física ou intelectual para receber aprendizados em doses "cavalares",  a vida é sábia nesse sentido e nos dá vários sinais de que é preciso entender que acima de qualquer realização ou conquista, está o tempo, como nos exemplos acima. Perder tempo é ruim, sem dúvida. Mas acredite que entender o processo de aprendizado e compreender os próprios limites não é perda de tempo, pelo contrário. É otimização dele. Querer 'correr' pode nos trazer uma falsa sensação de dever cumprido, sendo que no fundo não fizemos uma construção sólida. É como construir um castelo de areia porque vai bem mais rápido do que construir um de concreto.

Então, compreenda-se, acolha-se, aceite seus desafios e suas fraquezas, e tenha paciência com você mesmo. Todos nós temos alguns desafios a enfrentar. E é perfeitamente natural que nas horas mais difíceis tenhamos a sensação de que aquilo nunca vai passar (Leia mais sobre isso em http://venhaereflita.blogspot.com/2014/07/quando-chega-o-pior-momento-de-nossas.html ), mas passa sim. Inevitavelmente...

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

"Terminar um relacionamento de 5, 10, 15, 20 anos...? E jogar tudo fora?"

Eis aí uma das coisas mais difíceis na vida. Ter coragem de pôr um fim numa relação que não traz mais conforto, que não nos deixa felizes, que nos magoa e faz mal.

Lógico que pode ser possível recuperar. Quando ainda existe amor entre ambas as partes, pode valer a pena tentar de novo, desde que ambos o queiram. Agora, e quando não é o caso? Há muitos motivos para tomar coragem e fazer o que deve ser feito. Veja alguns:

1) Ok, você tem pena de terminar um relacionamento ou casamento de 20 anos ou mais. 
Mas vamos supor que você tenha mais 40 anos de vida. Por causa dos últimos 20 anos, vai comprometer a felicidade dos próximos 40? E cada minuto de vida é precioso. Mesmo que você tenha alguns meses apenas, vale a pena viver os últimos meses da sua vida mais feliz, não vale?

2) Pode ser que você simplesmente não consiga aceitar que aquela pessoa que você aprendeu a amar já não seja mais a mesma... 
Ou talvez nunca tenha sido quem você pensava que fosse, ou pior ainda, que você idealizou (Leia mais em http://venhaereflita.blogspot.com/2014/07/quando-congelamos-uma-pessoa-no-tempo.html). Tem gente que passa a vida inteira tentando mudar o outro, na esperança de que a pessoa mude ou melhore... e isso é uma grande ilusão. Só muda ou só volta a ser quem era antes quem quer.

3) "Mas a minha família gosta tanto dele(a)"...  
Não é a sua família que convive com vocês. Ela não vê as coisas que te incomodam no outro, e mesmo que veja... É você que deve definir se consegue conviver ou não.

4) "E os filhos?" 
Os filhos, como eu já disse em http://venhaereflita.blogspot.com/2015/01/casa-se-nao-der-certo-separa.html, terão um crescimento mais saudável vendo os pais felizes. No começo pode até ser difícil, mas no médio e longo prazo será muito melhor para eles. É preferível que eles vejam os pais separados há dez anos mas cada um feliz com sua vida, do que vendo os pais nesses mesmos dez anos em desamor. Você acha mesmo que eles não percebem? E outra coisa... Se você não se colocar em primeiro lugar, não vai conseguir fazer o melhor que poderia por eles.

5) "Dá desânimo só de imaginar começar tudo de novo com outra pessoa..."
Claro, logo após o rompimento a última coisa que se tem vontade é encontrar outra pessoa. Mas depois que a cabeça esfria, a coisa muda de figura. E mesmo que não mude... A vida não é um eterno recomeço?

6) "Não quero que ele(a) sofra..."
Isso vai ser inevitável. Para ele(a) e para você também. Sofrer faz parte, e infelizmente ninguém está ileso à sofrimentos.

Pessoal, a gente não faz ideia de tudo o que a vida tem para oferecer. Das voltas que a vida dá. Das surpresas que ela traz... E uma delas pode ser o recomeço desse mesmo relacionamento, porém mais maduro!




sexta-feira, 11 de setembro de 2015

"Entrou um profissional qualificado na minha área... Será uma ameaça?"

Recebi um email pelo blog de uma pessoa dizendo que a empresa em que ela trabalha está contratando novos profissionais, e alguns parecem ser bem qualificados, outros nem tanto. Disse que isto está gerando boatos na empresa e que as pessoas estão com medo. E gostaria de ter dicas sobre como agir a respeito.

Em primeiro lugar achei graça, afinal, não tenho a menor vivência em RH. Agradeci por ser leitor do blog e prometi pensar no assunto. E pensei. :-) 

Vamos supor que isso aconteça na empresa em que você está trabalhando. Sentir-se ameaçado é praticamente inevitável. 

Se ele está em um cargo acima do seu, você teme que ele possa te demitir.

Se está no mesmo cargo que você, sente que sua promoção pode ser adiada.

Se está abaixo do seu cargo, sente que seu cargo pode estar ameaçado.

Fora os outros medos que aparecem. De 'puxarem o seu tapete', de 'o clima pesar', e outras coisas mais.

Quando entra um profissional assim na sua área, é preciso antes de tudo analisar se realmente ele é qualificado, ou se apenas foi um 'mestre' no marketing pessoal (já vi isso acontecer, e muito). Se é esse o caso, pode demorar um tempo, mas a verdade inevitavelmente aparece. Tenha paciência, às vezes somente a equipe consegue saber quem é a pessoa realmente, e a gerência nem sempre. Porque às vezes um suposto 'profissional' desse tem lábia, e frequentemente leva méritos sobre o trabalho alheio, é bajulador... E pior ainda, quando é do tipo 'cobra', que na frente do gerente é um 'santo' e quando este vira as costas o tal 'profissional' se revela - e nem dá pra reclamar muito com o gerente, a pessoa pode ser tão ardilosa que este sequer acredita que ela o seja e ainda acha que a equipe está sendo injusta e enciumada (Oh, mundo corporativo)... Pode acontecer dessa pessoa realmente prejudicar outras e acontecer demissões injustas. Se é esse o caso, o bom profissional que foi demitido injustamente ao menos terá a chance de entrar numa empresa que seja mais coerente. Afinal, a empresa que desconhece a verdade sobre determinados funcionários talvez não mereça alguns bons profissionais que tem e não sabe reter talentos. Mas o tempo mostra tudo, mais cedo ou mais tarde. Ok, às vezes bem mais tarde, infelizmente.

Agora, vamos supor que de fato o novo profissional tem conhecimento e trabalha bem. Alguns agem com arrogância, sentindo-se superiores aos demais, e nesse caso não tem muito o que fazer. Pode até ser que a gerência perceba isso mas acabe optando por mante-lo mesmo assim porque precisa dele (leia mais sobre isso em http://venhaereflita.blogspot.com/2015/06/sera-que-os-gerentes-nao-veem-os.html)... 

E quando entra um bom profissional que é 'gente boa' (ou não tão boa assim, mas que dá para conviver)? Você pode até se sentir ameaçado, mas você já tentou se colocar no lugar dele? Este pode até ser ameaçador para você, mas já parou para pensar nos desafios que isso representa para ele também? Veja alguns:

-Não ser aceito pelos colegas e ter seu 'tapete puxado';

-Não receber informações o suficiente da empresa, especialmente dos colegas, para desenvolver bem seu trabalho (Tem uma postagem que só fala sobre isso em http://venhaereflita.blogspot.com/2015/01/o-lider-ou-funcionario-segura-informacao.html )

-Saber que como as pessoas podem ter medo da ameaça que ele representa, ele vai precisar ser muito cauteloso;

-Saber que se for fechado demais, podem estranhá-lo, e se quiser ser simpático, podem 'desconfiar de tanta simpatia';

-Não conseguir passar o que sabe por ter medo de parecer "ousado" numa nova casa, ou porque não consegue espaço para isso, e seu talento ser desperdiçado.

Acredite, se for uma pessoa coerente, não será fácil para ele também... E quanto maior a empresa, maior a dificuldade para gerir tudo isso.

Mas, enfim. O que as pessoas não entendem é que um profissional desse pode trazer novas idéias, novos conhecimentos inclusive para elas, e que a troca de informações pode enriquecer ambos os lados. Se este profissional for bem acolhido pela equipe, além do clima ficar muito mais agradável, isso pode facilitar o trabalho de todos. O que você aprender com ele você nunca perderá, e poderá até se tornar mais qualificado por causa dele, destacando-se ainda mais nessa ou na próxima empresa na qual for trabalhar. Sem contar que ele pode até te ajudar a crescer na empresa, especialmente se você já estiver "acomodado(a)" no seu cargo, por realmente não conseguir mais expandir a sua visão por estar tão imerso na rotina.

Pode acontecer também de você ficar com o "orgulho ferido" por até então ter "reinado absoluto" talvez, mas pense. Mesmo que isso te incomode, é um convite para você inovar também. E caso não seja o caso, pense também no seguinte: Você sempre será melhor profissional do que alguns, mas também irão surgir profissionais melhores do que você. Faça o melhor que pode sempre, e não esqueça de inovar - o que pode ser auxiliado pelo novo colega.

Faça sua parte. Nada é por acaso. Mesmo que você seja prejudicado depois, sempre ficará uma lição para aprender.

Repito uma frase que já coloquei em outra postagem: 

"Uma vela nada perde quando, com sua chama, acende uma outra que está apagada." (Orison SMarden)


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Um suicida me ensinou...

Recentemente um conhecido meu cometeu suicídio. Não pretendo, nem tenho o direito, de julgar a atitude dele. O meu intuito é simplesmente passar o que aprendi com ele a vocês.

O único objetivo dessa mensagem é refletir sobre o tema. Em respeito à memória dele, não gostaria de ler comentários que o julgassem. Se o julgamento é inevitável, guardem para si, por favor.

Ele era uma pessoa de boa família... Muito bem estruturada financeiramente. Ele foi muito bem criado, teve oportunidades, e vivia muito bem.

Ele tinha uma personalidade forte, de opinião muito bem formada, sobre a vida em geral. Desde cedo deixou claro que jamais teria filhos e achava que ninguém deveria tê-los por toda a dificuldade que a vida oferece. Era filósofo a respeito, e participou de várias discussões filosóficas, escreveu muito sobre o tema. Defendia também o suicídio, até porque era totalmente ateu e nunca acreditou na vida após a morte.

Gostava de viajar, de experimentar coisas boas, era fã de carros, as viagens preferidas dele sempre envolviam as melhores estradas no mundo com carros potentes. Aqui no Brasil ele também era fã de velocidade, e apesar de ser ateu, descrente, fazia questão de preservar as outras vidas. Tanto que jamais corria nas estradas brasileiras durante o dia... Deixava para fazer isso na madrugada, ele se preocupava em não causar acidentes porque poderia prejudicar outras famílias.

E, certo dia... Enviou cartas a todos os amigos, aos pais... Comunicando a decisão do suicídio. Deixando claro que não tinha mágoas de ninguém, que não era uma pessoa triste, e que apenas estava pronto para partir, dizia que a decisão já havia sido tomada fazia muito tempo, que estava apenas aguardando a finalização dos projetos de vida... E como eles já estavam realizados, havia chegado a hora de interromper a sua própria vida. Para preservá-lo, não irei divulgar o nome dele aqui...

Quando as cartas começaram a chegar para as pessoas... Ele já havia cometido o suicídio.

Ele não parecia ser uma pessoa triste e com conflitos. Demonstrava muita frieza e racionalidade.

E, com isso, o que aprendi? Que há pessoas que por mais que tenham tudo para serem felizes na vida, não encontram motivação para nada. Que ter tudo aquilo que se deseja materialmente não significa plenitude. 

Portanto, você, que pode ainda se sentir incompleto por ainda não ter conquistado tudo aquilo que deseja, acredite: Nem isso garante sua satisfação. Existem coisas que não têm preço, e a sua vida é uma delas...

Isso mostra o quanto ter objetivos serve de motivação. Há também quem não tenha objetivo nenhum e encontre razão para viver. Seja como for... Reflita se realmente você deve se considerar infeliz ou incompleto por ainda não ter realizado ou conquistado tudo aquilo que tem em mente.