sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As Descobertas de Fernanda

As descobertas de Fernanda

Deitada em sua cama, abraçada a uma almofada, Fernanda chorava. Sua mãe, Elisa, havia falecido quinze dias antes. A avó paterna, dona Linda, entrou no quarto, chamando-a para jantar.

_Vamos, Fernanda, comer um pouquinho. Sei que tudo isso é muito difícil, mas você precisa se alimentar, querida... Você tem 10 anos, está em fase de crescimento.

_Vovó, estou sem fome. Queria minha mãe de volta... Por que ela teve que partir?

_Todos nós queríamos sua mãe de volta, meu bem. Mas existem coisas que não têm explicação. Acredite que Deus sabe o que faz.

_Deus? Duvido que exista... E se existe, não é tão bom como falam... Como pode, levar uma pessoa tão boa como era a mamãe?

_Fernanda, sua mãe ficaria muito triste se te ouvisse falando assim... Ela era uma mulher de muita fé, e quis muito passar isto para você...

_Não importa, vovó. Agora ela não está mais aqui, não está me ouvindo... Agora, por favor, me deixe um pouco sozinha, estou sem fome mesmo...

E desatou a chorar de novo. Dona Linda achou melhor deixá-la sozinha mesmo. Ao descer as escadas, Zeca, seu filho e pai de Fernanda, perguntou por ela:

_Mãe, e a Fernanda? Não vai jantar?

_Está chorando, Zeca. Quer a mãe de volta, e está se perguntando se Deus existe mesmo... E quis ficar sozinha. Achei melhor deixá-la.

_Vou falar com ela. Tenho algo em mente, e já sei o que fazer. Ela também já me disse que não acredita em mais nada. E ela é muito jovem para perder a fé na vida...

Subiu até o quarto de Fernanda. E bateu na porta:

_Filhinha, posso entrar?

_Claro, papai...

Zeca entrou no quarto e Fernanda estava com o rosto todo vermelho, banhado em lágrimas. Abraçou a menina e disse:

_Fernanda, sei o quanto é duro para você. Para mim também é, você sabe o quanto eu e mamãe nos dávamos bem. Eu também estou muito abalado e tentando me adaptar sem ela... Tudo é muito difícil, a gente tem que se ajudar, filha... Venha, vamos descer e jantar um pouco.

_Papai, eu não aguento de saudades da mamãe... Não tenho vontade de nada.

_Filha, a mamãe não está mais aqui. Mas pense que seu pai está, e estará sempre com você. Então, é por mim que peço. Venha comer um pouco, estou muito preocupado com você, e tudo o que não preciso agora é de você doente por não se alimentar. Faça isso pelo seu pai... E por sua avó também, que tem feito o possível por nós.
Fernanda levantou-se. Pensou no que o pai disse, e de fato não queria trazer mais preocupações para ele e para a avó.

_Isso, filha. Vá lá lavar esse rostinho, penteie seus cabelos... E vamos jantar. Preciso de você forte e alimentada. Amanhã vou te levar para um passeio.

_Passeio, papai? Para onde? Eu não tenho vontade!

_Será uma surpresa para você. Vamos, mesmo sem vontade. Em algum lugar temos que estar amanhã, certo? E não precisa ser em casa. Será Sábado, vai fazer sol... E tenho certeza de que vai te fazer bem. Vamos, faça isso pelo seu pai. Vamos dormir cedo, iremos para um lugar não tão perto.

E de fato, Fernanda atendeu ao pedido do pai. Jantou, e no dia seguinte, bem cedinho, se preparava para sair. E como ele havia pedido, vestiu-se com roupas confortáveis e calçava tênis. Ao descer, viu que o pai levava uma mochila nas costas.

_Pra que a mochila, papai?

_Faz parte do passeio, filhinha. Não faça perguntas, eu já disse que era uma surpresa.

E Fernanda não fez mais perguntas mesmo, até pelo seu desânimo.

Entraram no carro. Zeca saiu da cidade, entrou numa estrada, e a viagem seguiu. Chegaram numa pequena cidade do interior, bem arborizada. Uma estradinha de terra os conduzia a um lugar muito bonito. Fazia sol. Zeca disse:

_Sinta o cheiro do mato, Fernanda! Ouça o canto dos passarinhos! Sair da cidade grande nos faz tão bem, não faz?

Zeca emocionou-se, porque falou exatamente o que Elisa diria se estivesse ali também. Fernanda sentiu que o pai fazia um esforço tremendo para anima-la apesar da tristeza que ele não conseguia esconder também. E sabia que ele estava fazendo tudo isso por ela, então ela procurou se animar.

E finalmente chegaram ao destino. Zeca estacionou o carro, desceram e entraram numa reserva florestal.

_Aqui começa nossa aventura, Fernanda. Vamos andar numa trilha! Espere um pouco aqui, vou registrar nossa entrada. Um guia irá nos acompanhar e ele já deve estar nos esperando.

Fernanda viu de longe seu pai conversando com o guia por uns minutos. Em seguida, ambos vieram até ela. O guia se apresentou:

_Bom dia, Fernanda, prazer em conhecê-la! Meu nome é Samuel, mas pode me chamar de Samuca. Irei acompanhá-los na aventura.

_E para onde vamos?

_Não posso contar! Senão estragarei a surpresa que seu pai quer fazer para você. Vamos lá? O caminho é longo.

Mesmo triste, Fernanda foi seguindo o pai e o guia. Conversaram sobre o dia bonito que fazia, sobre o ar fresco que refrescava a sensação do sol quente... E do quanto Elisa gostaria de estar ali com eles. Elisa, Zeca e Fernanda sempre gostaram de ter contato com a natureza. Alguns trechos eram difíceis, Fernanda até se queixou um pouco:

_Papai, estou cansada...

_Tenha um pouco de paciência, filha. Ás vezes é preciso ter um pouco de trabalho para alcançarmos coisas boas. E acredite, você vai adorar. Não vai, Samuca?

_E como vai! Será um sucesso, Nanda!

 Num momento da trilha, Zeca disse:

_Filha, aqui começa minha surpresa para você. Vou vendar seus olhos. Confie no seu pai, ok?

Zeca vendou os olhos de Fernanda e pediu que ela aguardasse um pouco. Ela ouviu que ele e Samuca pegavam outras coisas na mochila e ficou se perguntando que surpresa seria aquela. Zeca disse a ela:

_Vamos, Fernanda, segure minha mão. Vamos andar bem devagar, vou te orientando para você não tropeçar.
E foram andando. Logo em seguida, ele disse:

_Não se assuste, mas vamos pisar em um pouco de água agora. Não se preocupe em molhar seus tênis porque trouxe outros para você na mochila.

Fernanda começou até a ficar um pouco mais animada:

_Oba, então pelo jeito essa surpresa vai ser divertida... Embora a mamãe não gostaria nada, nada de saber que eu estou molhando os pés.

_É verdade. Ela nos daria uma bela bronca agora se nos visse de onde está. Mas vamos. E a água pode estar gelada, mas logo vamos nos acostumar. Só os seus pés irão molhar.

_Ui, papai, que água gelada. Nós estamos em um lago?

_Pode-se dizer que sim, Fernanda. Logo você vai ver o que é!

Andaram mais um pouco, saíram do lago. Ao continuar o caminho, Fernanda percebia que tudo parecia estar ficando mais escuro. Apesar da venda nos olhos, deu para perceber quando a claridade do sol sumiu, bem como, quando o calor dele parou de tocar sua pele.

Zeca parou de andar. E disse:

_Pronto, filha. Pode tirar a venda dos olhos. Mas fique onde está, não saia de perto de mim. E não tenha medo.
Fernanda tirou a venda dos olhos, mas viu-se numa escuridão total. Não enxergava nada. Olhou para cima, para baixo, para os lados... Mas tudo era escuridão total. Zeca esperou que ela se manifestasse:

_Papai, por que está tudo tão escuro? Que lugar é este?

_Você já vai ver, querida... Agora, Samuca!

Zeca e Samuca acenderam uma lanterna. Fernanda olhou ao redor, e ao ver o ambiente iluminado, ficou maravilhada:

_Noooossa, papai! Mas isso é... Isso é uma caverna!!! Como as que vi nas fotos que você me mostrou!!! Eu sempre quis conhecer uma!

_Sim, Fernanda, é uma caverna. Fiz questão de te trazer num salão bem escuro dela para fazer a surpresa. Agora, vamos, coloque o seu capacete, e também tem uma lanterna nele para que você consiga enxergar tudo melhor, igual ao meu. E se sentir frio, tenho uma blusa para você na mochila. Pode estar o calor que for lá fora, a temperatura aqui pouco irá variar. E trouxe um lanche, com tudo o que você gosta, para podermos repor as energias quando sairmos daqui.

Pela primeira vez em 16 dias, Fernanda sentiu-se animada. Seus pais sempre diziam que a levariam para conhecer uma caverna e ela sempre esperou por isso. Zeca ajudou-a a colocar o capacete, e ela de fato estava muito contente. A terceira lanterna acesa melhorou ainda mais a visão dos três aventureiros.

Era um bonito salão o que estavam. Fernanda foi olhar de perto as formações: Estalactites, estalagmites, cortinas, colunas... Ela conhecia tudo por fotos, já tinha lido bastantes coisas a respeito, mas vê-las de perto era muito mais emocionante.

_Fernanda, lembre-se de que a natureza trabalhou anos e anos para isso. E ainda não terminou seu trabalho. Essa caverna em que estamos, por ter água, o que você achou que era um lago, significa que ainda está em formação, lembra-se disso?

_Sim, papai, eu me lembro. E olha que legal, as gotinhas caem tão devagar das estalactites...

_Fernanda, lembre-se de não tocar em nada, principalmente onde tem as gotinhas, senão você destrói anos de trabalho da natureza, que precisa de tempo para construir com perfeição essas lindas formações.

Ela observou cada canto do salão onde estavam. E Samuca foi conduzindo pai e filha para outros salões da caverna. Todos tinham formações interessantes de se ver, de formatos e colorações diversas. Fernanda estava encantada com tudo o que estava vendo. Era tudo muito lindo, um verdadeiro presente da natureza.

Ficaram aproximadamente uma hora dentro da caverna. E fizeram um lanche, e em seguida, toda a trilha de volta. Zeca agradeceu Samuca por tê-los acompanhado:

_Muito obrigado, Samuca! Quando eu vier novamente vou te chamar para nos acompanhar.

_Eu é que agradeço, Zeca. Venha sempre que possível. Aqui no parque tem muitas coisas lindas para ver. A Fernanda vai adorar.  E... Muita força, muita luz para vocês.

Samuca abraçou Zeca, e em seguida, abraçou Fernanda também. E a ela disse:

_Adorei conhecê-la, Fernanda. Espero vê-la de novo em breve. E... Sinto muito por sua mãe... Seu pai me contou tudo. Espero que você consiga superar logo essa fase tão difícil. Viva, e deixe seu pai viver também! Agora, vou deixar você e seu pai. Ele tem algumas coisas importantes para te falar.

Fernanda chorou um pouco. Zeca segurou em sua mão e foi levando a menina para uma outra trilha, desta vez bem mais curta, procurando distraí-la com outras coisas. Logo em seguida, chegaram num lindo lugar, com uma cachoeira.

_Vamos nos sentar naquela pedra e contemplar esse lugar... É muito bonito.

Sentaram-se. A menina começou o assunto:

_Papai, o Samuca disse que você tinha coisas importantes para me falar... O que é?

_Tenho, sim, Fernanda. Você gostou de tudo o que viu hoje? Gostou da caverna, gosta desse lugar em que estamos agora?

_Sim, papai, é tudo muito lindo...

_E você tem ideia de quem criou tudo isso?

Fernanda ficou quieta. Abaixou um pouco a cabeça, ficou pensativa. Olhou para a cachoeira, olhou para o rio, olhou para o céu...

_Já sei. Você vai me dizer que foi Deus. Mas não estou acreditando muito n’Ele...

_E por que você acha que eu diria a você que é Deus?

_ É o que a maioria das pessoas diz.

_Filha, vou repetir a pergunta. Não estou pedindo para você dizer que é Deus, e muito menos pedindo para que você acredite n’Ele. Quem você acha que criou tudo isso?

_Não sei, papai. Uma “coisa”... Ou alguém com muito poder.

_Mas você acredita que exista algo ou alguém que criou tudo isso, certo? Afinal, se tudo isso que existe está aí, surgiu de alguma forma... Concorda?

_Sim, papai... Mas acho que essas coisas deveriam ser explicadas para a gente.

_Fernanda, há muitos mistérios da natureza que a humanidade precisa desvendar. Existem várias teorias a respeito, tanto na ciência como nas religiões e crenças... Mas nada é certo. Os homens estão aí, vivendo na Terra há uns 200.000 anos, mas até hoje não desvendaram quase nada. E se é assim, significa que ainda não evoluímos o suficiente para ter esse conhecimento, por mais que a ciência cresça, o caminho ainda é longo. Um dia, acredito que tudo isso será explicado. Mas enquanto isso não acontece, é importante lembrarmos que se estamos aqui, somos parte da natureza... Que uma força desconhecida nos criou. Isso é ter fé na vida, Fernanda. O que você acha?

Ela se calou. Não conseguia responder nada, e seu rostinho mostrava profunda tristeza. Como continuou em silêncio, Zeca continuou:

_Fernanda... Responda-me uma coisa. Logo que vendei seus olhos na trilha, andamos um pouco e pisamos na água. Você me perguntou se estávamos em um lago. Mas onde estávamos de verdade?

_Na caverna.

_Certo. E por que você achou que era somente um lago e não uma caverna?

_Porque foi na primeira coisa em que pensei, e senti a água nos pés... Eu não podia ver que era uma caverna.

_E você nunca havia estado numa caverna antes. Isso também ajudou você a não pensar que podia ser uma caverna, concorda?

_Sim, concordo. Mas o que você quer dizer com tudo isso?

_Quero dizer, filha, que a gente deduz as coisas à medida que vamos adquirindo conhecimentos. Mas que nem sempre deduzimos o que é correto. A gente tira conclusões de acordo com aquilo que sabemos naquele momento. E à medida que vamos aprendendo mais, vamos começando a questionar mais. Se eu vendar seus olhos numa nova trilha e você pisar em água de novo, daqui para frente vai se perguntar se está num lago ou numa caverna. Então, vale a pena pensar se acreditamos ou não em certas coisas, bem como, se aquilo que deduzimos pode ter outras respostas. Que tal pensar um pouco nisso?

Novamente Fernanda se calou. Após um tempo, o pai fez nova pergunta:

_Outra coisa, filha. Quando vendei seus olhos... Você sentiu medo?

_Não, papai, não senti.

_Quando pedi para você caminhar de mãos dadas comigo, você não podia ver nada. Quando falei para você tirar a venda dos olhos e tudo continuou escuro, falei para você não ter medo. Por que você não teve medo?

_Porque eu acredito em você, você é meu pai...

_E  você confia em mim, mesmo sem saber para onde eu estava te levando... Certo?

_Certo.

_Então, Fernanda. Será que a tal força desconhecida que criou o mundo, inclusive este pequeno pedaço dele que estamos visitando hoje, não faz o mesmo com a gente?

Fernanda pensou um pouco e disse:

_É... Pode ser. Mas por que faria a gente sofrer? Você me levou num lugar lindo sem eu saber. Essa “tal força” às vezes nos faz sofrer! Você não me fez sofrer.

_Fernanda... Nem tudo tem explicação. Hoje eu te trouxe num lugar bonito. Há umas semanas atrás, tive que brigar com você, que não fez a lição de casa e escondeu de mim e de sua mãe, lembra-se disso? Você ficou triste e chorou bastante. Fiz você sofrer, não fiz?

_Sim, fez...

_E mesmo tendo brigado com você, você sabe o quanto te amo, filha... E sabe que fui obrigado a brigar com você para que aprendesse a ter mais responsabilidade e a não mentir mais. Na hora você não percebeu isso, mas agora  sabe que fiz isso para que você cresça, não sabe? E que continuarei fazendo se for preciso...

_Sim, papai... Eu sei.

_Então, filha. Você acredita no seu pai, mesmo sabendo que ele pode te trazer alegrias e te deixar triste de vez em quando. Estou certo?

_Está!

_Filha querida... Isto se chama “fé”. Será que não é assim que essa força desconhecida age conosco?

Fernanda ficou em silêncio. Como não dizia nada, Zeca fez outra pergunta:

_Vamos, Fernanda. Olha, não precisa me responder nada agora. Sei que é muita informação para sua cabecinha, é muita coisa para você pensar... Mas preciso te falar essas coisas, filha. Você é tão jovem e está tendo que conviver com uma dor muito grande... Eu quero que você encontre forças para continuar, para não se entregar ao sofrimento e perder a fé em viver. E fé, Fernanda, é uma palavra que ouvimos muito quando o assunto é religião. Mas querida... Fé é uma palavra que pode ser usada em tudo aquilo que acreditamos. Podemos ter fé numa religião sim, mas podemos ter também em nossos amigos... Você pode ter na escola, quando faz um bom trabalho e espera que sua professora reconheça... Eu posso ter no meu trabalho... Um eleitor pode votar em um candidato na eleição por acreditar no trabalho dele... Tudo isso é fé, Fernanda. É acreditar em algo, independente de sabermos se o que esperamos vai se realizar ou não, e se aquilo em que acreditamos nos dará o que esperamos. E é preciso ter fé na vida, Fernanda, na energia que criou todo o universo. A gente não sabe praticamente nada sobre isto... Algumas pessoas acreditam em Deus, outras dão outro nome, há milhares de religiões que dão vários nomes a essa força, Fernanda. E há também quem não acredite em um “ser” exatamente, que são os ateus, mas que também não sabem explicar os mistérios do mundo... Você tem fé no seu pai, assim como podemos ter fé na força da vida.

_Ah, papai. Você eu vejo. Como posso acreditar naquilo que não vejo?

_Fernanda... Quando acendemos a luz, o que faz com que a lâmpada se acenda?

_A eletricidade.

_E você vê a eletricidade?

_Sim, papai, quando a luz acende.

_Não, Fernanda. Você vê o efeito da eletricidade, que é uma força invisível.

_Mas papai, se eu vejo que a luz acendeu, eu sei que foi a eletricidade que a trouxe!

_E quando você vê todas essas coisas lindas da natureza à sua volta... Quem foi que trouxe?
_Não sei...

_...Certo. Você não sabe, e eu também não. Mas foi uma força invisível também, assim como a eletricidade. O homem já descobriu a eletricidade, vai descobrir outras coisas também. Mas existe uma força invisível que criou a natureza que você vê. Concorda com isso?

_Sim, papai, concordo... Mas acho que vou acreditar quando o homem descobrir.

_Fernanda, os efeitos dessa força estão aí para a gente ver e acreditar nela. Mas tudo é questão de tempo. Vamos pensar naquelas estalactites que você viu na caverna. Geralmente elas crescem de 6 mm a 25 mm a cada 100 anos. Tem noção do que é isto, do tempo que elas demoram para se formar?

_Nossa, tudo isso?

_Sim. Tudo isso. Demora esse tempo todo. E não são belas, mesmo em formação?

_Sim, são lindas!

_É isso, filha... Há coisas belas em formação, e são belas mesmo enquanto ainda não estão prontas. Assim como nós e a humanidade em geral... Gostaria que você pensasse em tudo isso.

_Mas eu queria ainda entender por que a mamãe teve que ir embora, papai... Eu sinto tanta saudade!

_Fernanda... Tudo isso é muito difícil para nós todos. Esse é um dos mistérios que demoraremos muito para descobrir, se é que um dia iremos. Mas, pense em outra coisa. Lá dentro da caverna, quando você tirou a venda, tudo continuou escuro, não continuou?

_Sim, eu não enxergava nada.

_E o que eu e o Samuca fizemos?

_Acenderam as lanternas, oras...

_Então. Nós acendemos as lanternas para iluminar a escuridão. É o que precisamos fazer na vida, minha pequena aventureira. É preciso encontrar motivos para levar luz onde está escuro... E o que aconteceu quando acendemos a sua lanterna também?

_Conseguimos enxergar ainda melhor.

_Sim, querida, quanto mais pessoas escolherem iluminar, mais visão e conforto todos terão... Fernanda, é isso que tenho tentado fazer todos os dias por você. Tudo vai continuar triste e difícil por um tempo, mas se ambos escolhermos iluminar... Será mais reconfortante. Juntos, teremos uma luz em dobro. Vamos tentar?

Fernanda abaixou a cabeça e começou a chorar...

_Por favor, filhinha... Olhe para mim! Aqui, bem nos meus olhos!

A menina olhou nos olhos do pai. Com os olhos também marejados, ele continuou:

_Eu... Não aguento ver você tão triste. Eu tenho muita saudade da sua mãe, sei que você também... E ver você sofrendo tanto... Aumenta ainda mais a minha dor. Não posso pedir que você não sofra, Fernanda, porque isso faz parte e não temos como fugir disso... Agora... Ver minha filha tão amada... Tão amarga... E tão descrente de tudo.... Eu... Não consigo...

A voz de Zeca foi ficando pausada e trêmula. Não conseguiu dizer mais nada. Abraçou a menina bem forte. E ali, abraçados, ambos choraram toda a sua dor, tendo apenas a natureza como testemunha.

_Papai, não chore...

_Nanda... Seu pai também sofre. É impossível ser tão forte a ponto de nunca chorar. Isso faz parte. Mas não se preocupe, eu estou bem. Apenas me diga que ao menos irá pensar em tudo o que conversamos! Lembre-se que estou pedindo simplesmente que você acredite na vida, mesmo que não saibamos por que algumas coisas tristes acontecem... E que você pense também em ter fé, independente da crença que você escolher ter, independente de ser a mesma que eu e sua mãe tínhamos! Isso é com o tempo, minha querida, mas saiba que estarei sempre aqui ao seu lado. Pode contar com seu pai para sempre. Tudo o que eu te disse pode levar um tempo para você assimilar. Vamos conversar sobre isso sempre que você quiser!

_Sim, papai... Eu vou pensar...

_Obrigado, filha. Já me conforta saber que ao menos você está disposta a tentar. Agora, vamos indo, minha pequena aventureira?

_Vamos, papai.

De mãos dadas, foram seguindo a pequena trilha de volta. Caminhavam em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos. Desta vez, foi Fernanda quem cortou o silêncio:

_Papai... Preciso te perguntar uma coisa!

_Claro, o que você quiser!

Zeca parou na trilha, sentou-se numa pedra, pôs a menina no colo, que disse:

_Papai... Esses dias todos, de tão triste que fiquei, falei que não acredito em nada, e confesso que fiquei até com raiva de tudo isso... E também dessa “força maior”, como você diz, que deve saber que estou com raiva dela... Será que vou ser castigada de alguma forma por isso?

_Nanda... Confesse. Quando eu brigo com você, você fica triste comigo e às vezes sente até raiva, não sente?

Fernanda se calou.

_Filha, vá em frente. Pode falar. Seu pai está aqui para isso. Não tenha medo nem culpa do que você sente, nem de falar sobre isso.

_Sim, papai, eu fico triste com você às vezes e já senti raiva...

_...Filha, o papai sabe, porque eu também sinto raiva das pessoas que amo quando elas me magoam. Mas eu te amo mesmo sabendo disso, e jamais te castigaria. Pode acreditar que essa Força Maior age da mesma forma... Aliás, age com certeza muito melhor do que eu, afinal eu sou apenas um humilde filho dela, assim como você. Não se preocupe com isso. É capaz que você ainda se sinta mal com toda essa tristeza que você está vivendo, mas você vai ver como o tempo vai curar tudo. E a Força Maior entenderá tudo isso, e intercederá por você e por todos nós. Não sinta medo. E tenha fé. Lembre-se, seu pai está com você.


Pai e filha de mãos dadas retornaram à trilha continuando o caminho de volta. A força da natureza os abraçava em silêncio... Abençoando todas as trilhas da vida nas quais ambos iam caminhar ainda.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O colinho de Jesus para dormir...

Está tendo alguma dificuldade para dormir? Tem passado por problemas que literalmente têm tirado seu sono? Ou ainda, não tem problemas para dormir mas está indo triste e amargurado? Tem acordado cansado(a), desanimado(a)?

Então, na próxima vez que você dormir, tente o seguinte...

Imagine-se chegando num lugar que lhe agrade. Pode ser um jardim, uma praia, um bosque (com direito ao som de passarinhos ou água num riacho se você quiser), ou uma sala confortável com decoração aconchegante e quem sabe uma música tranquila, sua igreja, enfim, o ambiente que você quiser. Imagine que você está vestindo uma roupa bem leve e fresca. Ande calmamente. Em seguida, sentado no canto de um banco (ou de um sofá), você vê Jesus. Vá até Ele, que te oferece uma almofada confortável. Pegue essa almofada... Coloque no colo d'Ele, estenda-se no banco e deite sua cabeça em Seu colo...

É dia ou noite? Você decide...

Aí você pode imaginar o mais absoluto silêncio entre ambos, quebrado apenas pelos agradáveis sons do ambiente, ou ainda, você pode imaginar que Ele lhe diz algo que te conforte ou tranquilize. Pode imaginá-Lo acariciando seus cabelos se quiser. Enfim, a meditação é sua. Respire profundamente e devagar, até simulando uma respiração parecida com a que temos quando dormimos. Permita-se ficar assim por um tempo até que se sinta mais tranquilo(a), se é que você não dormirá antes. 

É algo simples de ser feito, porém costuma funcionar para quem acredita. E, claro, você pode escolher outro ser de luz (Maria de Nazaré, um anjo que pode ser o seu anjo da guarda, enfim, qualquer entidade na qual você tenha fé.), outros ambientes, outros sons, sentir aromas...

Para aqueles que não aceitam imagens de divindades, você nem precisa imaginar um rosto, apenas uma forma humana já pode ser mais do que suficiente.

Para mim era infalível, raramente eu conseguia chegar até o fim porque dormia antes. Conheço mais de uma pessoa que fez e gostou. Realmente funciona, e por quê? Acalma nosso pensamento... Desvia nosso foco do problema para a visão de um ser de luz e de um ambiente que nos transmite paz e tranquilidade. Muitos de nós temos mais facilidade em encontrar auxílio quando estamos vendo algo que nos agrada.

E para quem acredita... Pensar em Jesus de uma maneira tão acolhedora afasta qualquer negatividade ou má influência que não conseguimos ver, mas que nos rodeiam sem que muitas vezes percebamos. 

Projetar-se num ambiente com um ser de luz ofuscará e neutralizará as sombras que podem estar à nossa volta!