sábado, 15 de agosto de 2015

"Se eu tivesse chegado antes/feito tal coisa... Ele(a) poderia ter sobrevivido!"

Ainda é muito difícil para nós aceitarmos a morte de uma pessoa querida. Faz parte da vida, tanto a morte como a dificuldade de aceitação.

Há um tempo atrás, quando escrevi um texto sobre a aceitação (http://venhaereflita.blogspot.com/2014/06/lidando-com-morte-de-pessoas-queridas.html)ali eu me perguntava por que todos nós, sem exceção, temos ainda que lidar com a morte de alguém como algo tão difícil, se é certeza de que um dia todos iremos "para o lado de lá". 

Li uma teoria que dizia que todos nós nascemos com "instinto de preservação", onde todos temos como instinto preservar nossa vida (é por isso que temos atitudes como levar as mãos ao chão automaticamente se cairmos, ou levar as mãos à cabeça se algo cair de cima, por exemplo). E o instinto é tão forte que acabamos projetando em todos os demais que convivem conosco. E por isso é tão difícil aceitarmos a perda. Sendo assim, todos nós buscamos salvar nossas vidas ou a dos semelhantes, e nos chocamos com a partida de pessoas que às vezes nem são tão próximas. 

E, com esse instinto, é natural que diante da partida de algum ente querido tenhamos a sensação de impotência, de culpa por não ter salvado a vida da pessoa, ou pensamos em mil soluções que poderiam ter "evitado o pior".

Mas, em primeiro lugar... É impossível saber data e hora que a morte chega ou vai chegar. Nunca sabemos quando ou como vai ser a partida de alguém. Então... Será que realmente teríamos tido poder diante da única certeza da vida?

E vou contar uma história que eu vivenciei, que creio que pode aliviar o sentimento de culpa de muita gente.

Certa vez, eu estava numa reunião onde comemorávamos o aniversário de uma pessoa. O aniversariante era médico, o filho dele era cirurgião cardiologista. E, de repente, o irmão do médico (e tio do cardiologista) se sentiu mal. Teve dores no braço, começou a tossir... Foram examiná-lo e perceberam que os batimentos cardíacos estavam irregulares. Pediram que todos os demais se retirassem do recinto em que estavam e foram aplicando os primeiros socorros. Esta residência ficava a poucos metros de um hospital bem conceituado, um dos médicos entrou em contato com esse hospital, avisou que era médico também e pediu que preparassem recursos no pronto socorro com urgência, porque levariam um paciente imediatamente e não daria tempo de acionar o resgate, já passando todo o quadro para que tudo fosse agilizado. E levaram-no para lá. Entre os primeiros sintomas de mal estar do paciente e chegada no hospital, não se passaram mais de 15 minutos. Havia vários equipamentos já preparados, vários médicos do pronto socorro e do hospital foram acionados e estavam a postos para auxiliar.

Foi feito de tudo, porém, mesmo com todos os cuidados... O paciente não resistiu e faleceu de infarto.

Ou seja: Ele teve socorro imediato, estava com dois médicos parentes dele, próximo a um hospital que já estava com tudo preparado para recebê-lo, e faleceu de infarto sendo que um dos parentes era cardiologista... O que mais poderia ter sido feito? Infelizmente, nada. De fato, "chegou a hora" da pessoa.

Essa história eu vi de perto, eu estava lá quando aconteceu, há quase 10 anos.

Aí pergunto a vocês: Será que realmente temos algum poder para mudar o que pode estar, digamos, já escrito no plano do universo, ou para quem é cético, que tenha acontecido pelo acaso? 

Claro que todos nós temos que lutar para sobreviver, e que temos que fazer o possível para ajudar a preservar ou salvar a vida de alguém. Mas quando tudo foi feito e a pessoa mesmo assim parte... Ainda ficam culpas do tipo:

- "Eu poderia ter chegado 5 minutos antes..."
- "Eu poderia ter tentado procurar outro hospital..."
- "Eu deveria ter consultado outro profissional..."
- "Eu não deveria ter saído de casa para o acidente não acontecer..."
- "Deveria ter aceitado aquele cafezinho a mais que me ofereceram para não estar na hora do acidente..."
- "Eu não deveria tê-lo(a) deixado sair..."
- "Eu deveria ter sido ainda mais rigoroso(a) com a dieta dele(a)..."
- "Será que seu eu tivesse aplicado determinado procedimento ele(a) poderia ter sido salvo(a)?..."

... Ah, pessoas... Já é tão difícil lidar com a dor da perda... Tudo o que não precisamos é agravar essa dor com uma culpa que não temos!

Aceitar a partida de alguém muitas vezes não é nem uma questão de fé mais. Simplesmente é entender que a morte ainda é um grande desafio à ciência, e que quando acontece, foge totalmente ao controle de todos, inclusive daqueles que estudam a vida inteira para preservar vidas.

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