Há alguns anos atrás, eu e uma amiga estávamos numa lanchonete especializada em salgados. Era uma noite fria, e quando saímos de lá, ao passarmos por uma calçada, havia uma mulher sentada num degrau. Ela tinha um bebê no colo e uma caixinha com cartelas de chicletes para vender. Ao passarmos por lá, ela perguntou se gostaríamos de comprá-los, eu logo agradeci e respondi que não (até porque nunca tive o hábito de consumir) e ia continuar andando (e tagarelando). Mas minha amiga parou e perguntou a ela:
"A senhora está com fome? Gostaria que comprássemos algo para você comer?"
E ela respondeu que sim.
Minha amiga perguntou:
"O que a senhora gostaria de comer?"
Ela respondeu: "Qualquer coisa..."
Bom, nessa hora eu já havia "aterrissado" na situação e me dado conta que ali existia uma pessoa em condição precária. E perguntei: "A senhora prefere pastel, coxinha, quibe...?"
E novamente ela respondeu: "Qualquer coisa..."
Ficou muito claro o quanto aquela mulher realmente passava por necessidades, e o quanto ela procurava viver de forma digna. Afinal, ela buscava ganhar dinheiro honestamente vendendo os doces, e não pediu absolutamente nada. E ao oferecermos ajuda, ela aceitou e o "qualquer coisa" mostrou o quanto ela realmente precisava de algo para comer...
E lá fomos eu e minha amiga de volta à lanchonete. Pedimos ali uma bandeja, escolhemos alguns salgados, e ainda pedimos uma garrafinha de suco natural para ela.
Ao entregarmos a bandeja... Um gesto do qual jamais me esquecerei: Ela colocou no degrau, e com apenas uma das mãos (porque a outra segurava o bebê) procurava rapidamente abrir o pacote, até com um esboço de sorriso no rosto (lembro-me até dos olhos arregalados, fixos no pacote), e com uma postura extremamente humilde.
Vendo aquela situação, eu e minha amiga não tivemos dúvidas. Abrimos nossas carteiras e todo o dinheiro que tínhamos entregamos a ela. Não era muito, infelizmente, mas para ela certamente ajudaria. E quando estávamos indo embora, desejando a ela que Deus a abençoasse, em sua humildade e dignidade, ela nos disse: "Peguem chicletes..."
Respondemos que não, que preferíamos que ela os vendesse para outras pessoas e ganhasse um dinheiro a mais. Despedimos-nos dela, que mal nos olhou novamente, tamanha devia ser sua fome, e logo se voltou a abrir a bandeja.
Ela sequer nos disse um "obrigada". E pergunto a vocês: Precisava dessa palavra dela para sentirmos a gratidão daquela mulher? Para quem está de fora, talvez sim. Mas para nós... As atitudes dela foram muito mais valiosas do que isso. Afinal, quantos pedintes dizem "obrigado" mas no fundo desprezam a atitude de quem "deu uma moeda de pouco valor", ou recusam uma comida que oferecemos porque eles querem dinheiro...
Preste atenção em quem te diz "obrigado". E preste também em quem nada lhe diz... Pode ser que o segundo seja muito mais grato a você do que você imagina!
Quando você "faz o bem sem olhar a quem", a palavra "obrigado" torna-se dispensável e o mais beneficiado é você...
(A gratidão silenciosa daquela mulher eu jamais consegui esquecer...)
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